segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Angustias de mãe

 Olá, desculpem a minha ausência, sei que não deveria deixar tão abruptamente  de partilhar convosco algumas das minhas experiências, hoje não vou falar de experiências, vou falar de uma vivência o que também é uma experiência mas de outro modo.

 Começo por dizer que muito cedo vi a minha mãe partir, desde daí a minha vida foi em redor da minha irmã, que foi irmã e mãe e do meu pai, que foi mãe e pai, este fato deu-nos uma cumplicidade enorme e uma união que muitos não entendem e muitos não têm. O meu pai é do tempo do "você" e ao longo dos anos eu e a minha irmã lutamos para que o "tu" fosse instituído, da nossa parte conseguimos mas o meu pai mantém-se fiel ao que lhe foi ensinado, a nós não nos dá qualquer incómodo é um sinal de grande respeito e com tal não me importo que ouvir por vezes os meus amigos a comentarem que é estranho. Bem adiante, esta nossa relação é tão forte que eu criei à nossa volta um receio do envelhecer, do perder, do não ter.... nunca tinha olhado para dentro de mim desta forma mas desde que tive a minha filha que isso mudou, não que ela me faça sentir velha, pelo contrário, apenas me faz ver que o que está à minha volta roda a 200 km/h e não há segundas oportunidades. Um adeus que não foi dito, um beijo que não foi dado, um olhar que não foi lançado para mim podem ser punhais fatais no meu coração! Quando chegamos perto uns dos outros nós damos um beijo, nós ficamos à janela a fazer adeus, nós falamos diariamente... É puro amor e dedicação. Já tivemos as nossas discussões como qualquer família mas  isso é normal e mantém a piada. Estes valores que me foram transmitidos estou agora a transmitir à minha maneira à minha filha, ela tem agora dois anos e é a luz dos meus olhos! Mas todos os dias o meu medo está aqui a moer-me, tenho receio de não puder estar presente quando ela mais precisar, tenho medo de envelhecer, ou não.... tenho medo de falhar! Não sei se vos acontece mas dou por mim a pensar no e se... nem adianta porque vem o nó a subir pela garganta que me queima a pele e me torna vulnerável.

 A minha filha recentemente fracturou totalmente o fémur esquerdo, mil vezes tivesse sido eu! Sei que muitos pais passam pelo mesmo mas eu passei à minha maneira e não tem sido fácil, espero que isto termine o mais rápido possível e que a possa ver a encher o wc de água, a esconder os meus cremes e a brincar às escondidas, enfim sendo ela mesmo! Por ano os pais têm direito a ter uma baixa de 30 dias por assistência aos filhos, resumidamente os filhos só têm direito a adoecer 60 dias por ano, se contar-mos com ambos os pais, podem imaginar o aperto que dá ter que voltar ao trabalho sabendo que ela não está bem. É o nosso país....e eu tenho a minha família por perto, e quem não tem? É justo?
 Ter um filho não é ficar com uma segurança o resto da vida, não é ter horários de trabalho fantásticos nem muito menos ter regalias em férias e afins, pelo contrário, é viver com a incerteza ao lado. Não sabemos como vai ser a escola/ férias, não sabemos se vamos conseguir colocar numa actividade extra, não sabemos se vamos ter sempre tudo o que for preciso, se falha a saúde então é indescritível, cresce a incerteza e angustia! Gostaria de ter um plano traçado, gostaria de saber quando vai ficar doente para puder "avisar" que me vou ausentar, gostaria de ter um vislumbre do futuro para saber que ela vai ficar bem e que eu vou puder ser sempre o seu ombro amigo, mas não posso...
 Quem não passa por este tipo de angustia não sabe o que é, sim o meu caso tem solução e sei que existem bem piores mas isso não dá alento, apenas me dá compaixão pelos pais que se encontram nessas situações.
  Eu sei o que sinto, qualquer mãe/pai sabe, porque 30 dias não chegam, porque a vida não chega....


Até breve! <3

Sem comentários:

Enviar um comentário